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Lutos na pandemia

Por Sara Andreozzi Petrilli do Nascimento

A expressão “luto” nos remete diretamente à perda de uma pessoa querida, porém pode indicar outras dores, como a de uma condição de vida que não existe mais, mesmo que provisoriamente. 

A pandemia da Covid-19 parou o mundo e mudou a nossa rotina de forma muito violenta. Não houve nenhum preparo emocional.  O medo do contágio nos convoca a sentir luto antecipatório pelo medo da perda de pessoas amadas, saúde e sustento. É um período de incertezas. 

Há formas diferentes de viver o luto, tanto emocionalmente como cognitivamente. Com o intuito de explicar de forma didática as fases do luto, a psiquiatra suíço-americana Elisabeth Kübler-Ross, definiu cinco etapas de dor:

1ª) Negação e isolamento: São mecanismos de defesa temporários. Exemplo: “Essa pandemia que dizem não é tudo isso. É exagero”. A negação funciona como um para-choque e é logo substituída por uma aceitação parcial.

2ª) Raiva: Surge quando não é mais possível negar a dor ou os acontecimentos. Exemplos: “Por que eu? ” ou “Estou sendo impedido de exercer minha liberdade de ir e vir”. Todo o ambiente é hostilizado e os relacionamentos se tornam problemáticos. A queixa em excesso é uma característica marcante neste estágio.

3ª) Barganha: É um tipo de acordo, uma tentativa de adiamento. A dor psíquica é aliviada pela imaginação de voltar no tempo e de não haver mais nenhuma vida em perigo. Esta fase é breve porque não se encaixa na realidade, e também porque é bastante cansativo ficar imaginando as soluções o tempo todo. Exemplo: “Se eu respeitar o isolamento social por alguns dias, tudo vai passar” ou “Depois de tudo isso, serei uma pessoa melhor. Farei caridade”.

4ª) Depressão: É sem dúvida a etapa mais associada ao luto. As etapas anteriores falharam, então surge um sentimento de grande perda. É o sofrimento e a dor psíquica de quem percebe a realidade nua e crua. Exemplo: “Eu não aguento mais passar por isso” ou “Quero a minha vida de volta, minha rotina”. A depressão pode imobilizar e fazer sentir desamparo. É uma sensação de vazio.

5ª) Aceitação: É a contestação de que não se pode mudar a triste realidade. Admite-se a impotência. Em comparação as quatro etapas anteriores do luto, não é uma fase feliz, porém considera-se a melhor pela falta de sentimentos intensos e pelo cansaço.

Exemplo: “Isto está acontecendo e vou tentar me acalmar para não adoecer” ou “Vou acompanhar as notícias sem excesso e aproveitar meu tempo para estudar e relaxar”. Gradativamente é possível sentir novamente alegria e prazer. A rotina vai voltando.  

Sara Andreozzi Petrilli do Nascimento
Psicóloga da Clínica Elgra, especialista em psicossomática psicanalítica.
CRP 82574/06

Imagem: Folha de Ribeirão Pires

Sara Andreozzi Petrilli do Nascimento

Psicóloga

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