<p style="text-align:justify">As consequências das dores emocionais vividas por membros de nossa família ao longo das gerações podem afetar nossa forma de sentir, enxergar o mundo e até mesmo interferir em nossos genes. Isso é o que mostram alguns estudos recentes sobre traumas intergeracionais.</p> <p style="text-align:justify">Herança Invisível – Uma pesquisa conduzida pelo hospital Mount Sinai, em Nova York, revelou que mudanças genéticas, resultantes do trauma enfrentado por sobreviventes do Holocausto, podem ser transmitidas para seus filhos. Além disso, outro estudo sugere que filhas de mulheres holandesas que estavam grávidas durante uma grande fome no final da Segunda Guerra Mundial apresentaram um risco acima da média de desenvolver esquizofrenia.</p> <p style="text-align:justify">Segundo Ed Tronick, psicólogo do desenvolvimento e clínico na Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts, é importante destacar que o que é transmitido não é a experiência traumática em si, mas sim a ansiedade e a visão de mundo. Evidências apontam que até mesmo os tataranetos de pessoas escravizadas podem herdar a ansiedade e o medo de seus pais em relação aos perigos do mundo.</p> <p style="text-align:justify">Há semelhanças entre humanos e animais em relação a herança de medos. Pesquisadores da Emory University, em Atlanta, treinaram camundongos machos para temer o cheiro da flor de cerejeira, associando-o a um pequeno choque elétrico. Surpreendentemente, os filhotes desses ratos demonstraram a mesma reação de medo ao cheiro, mesmo nunca tendo sido expostos a ele antes.</p> <p style="text-align:justify">Ressignificando o passado</p> <p style="text-align:justify">Essas descobertas confirmam o que algumas linhas terapêuticas vêm afirmando há décadas. Muitas delas têm se esforçado para apontar caminhos que permitam deixar no passado o que não nos pertence e ressignificar nossa visão de mundo para construir novas experiências e percepções diante da vida, que não sejam apenas heranças do passado.</p> <p style="text-align:justify">Ao compreender essa influência ancestral nos padrões que moldam nosso sistema familiar temos mais chances de explorar novas perspectivas e abrir espaço para experiências mais felizes.</p>

Imagem: Folha de Ribeirão Pires
Adriana Bernardino
Atua como facilitadora da abordagem sistêmico-fenomenológica para resolução de problemas intergeracioanis.