Política

“Não sei o que fazer”, diz comerciante diante da possibilidade de despejo da Rodoviária

Trabalhadores afirmam que lutarão pelo direto de permanecerem no local até o final do prazo estabelecido em notificação

Trabalhadores seguem na esperança de reverter a situação

Imagem:Foto: Folha Ribeirão Pires

Por Thainá Maria

Os comerciantes que atuam nos boxes do Terminal Rodoviário de Ribeirão Pires seguem lutando pelo direito de permanecerem em seus locais de trabalho. No entanto, com o passar dos dias, o sentimento de medo e impotência começam a se tornar evidentes, diante da incerteza do que enfrentarão pela frente. 

Um desses trabalhadores é Flávio Roberto, que atua há 11 anos no box 16. Ele contou a Folha que a notícia da desocupação do local o pegou de surpresa. “Não teve nenhuma conversa, nenhum diálogo. Estamos muito decepcionados”.

A preocupação se torna ainda maior uma vez que Flávio depende exclusivamente da renda obtida através das vendas realizadas na lanchonete. Além dele, dois funcionários que atuam no estabelecimento comercial também precisam do emprego para levar o sustento para casa. “Eles ficarão desempregados caso isso realmente aconteça. Eu não sei o que vou fazer. A gente sabe que isso daqui não é nosso, mas também não queremos sair daqui como ratos”, expressou o comerciante. 

O semblante de preocupação também se faz presente nos rosto dos demais ocupantes dos boxes do Terminal. Esse é o caso de Rodrigo Malta da Silva, que atua no box 4 há apenas três anos. O comerciante afirmou que, caso a situação não seja revertida, não terá condições de manter seu empreendimento em outro ponto da região central. “Não tem condições. O aluguel está muito caro, tem o aluguel de casa também, filho pequeno. Não tenho ideia do que fazer”, disse. 

No caso da dona Antônia Pereira, poder atuar na Rodoviária de Ribeirão Pires significa a realização de um sonho. Sua primeira conquista foi há 22 anos, ainda no antigo Terminal Rodoviário, quando conseguiu seu primeiro box para vender doces. Antes disso, recém chegada do Ceará, ela foi para as ruas vender doces e, aos poucos, foi construindo seu futuro na cidade.

Com a desativação do local e mudança para a nova Rodoviária, dona Antônia precisou lutar novamente para conseguir um novo espaço, onde permanece até hoje. “É complicado ter algo há mais de 20 anos e ter 30 dias para sair. Querendo ou não, ela batalhou para ter isso aqui”, afirmou Jeferson Pereira, neto da comerciante.

Assim como dona Antônia, Reidir da Cruz vê em seu box a materialização de um sonho e do desejo de ter seu próprio negócio. Ele conta que investiu em cada pedaço para tornar o espaço agradável aos seus clientes, mas, com o passar dos anos, viu que seus esforços podem ter lhe custado caro, incluindo sua própria saúde.

Reidir afirma que a forma que estão sendo tratados pela gestão atual só demonstra a falta de humanidade que os administradores possuem. “Se eles tivessem conversado com nós, talvez todos aqui teriam dado as mãos para resolver o problema. Só viram o que é conveniente para eles”, disse.

“Infelizmente, vejo que vou entregar a chave, mas não do jeito que eles estão pensando. Não vamos virar as costas e esquecer tudo o que vivemos aqui”, conclui. 

Para uma das funcionárias do box 1, a preocupação é multiplicada por cinco - uma vez que ela é mãe de quatro filhos e está a espera do quinto. “Devido à falta de empatia e respeito dos senhores (políticos), ficarei desempregada, com filhos para criar e grávida. Está na hora de vocês tomarem vergonha na cara e fazer o que tem que ser feito pela cidade, não tirar trabalhadores dos seus postos de serviço em plena pandemia sem garantia de nada, absolutamente nada”, afirmou Tamires Gouveia.

No meio do fogo cruzado, motivado por interesses políticos, os comerciantes do Terminal Rodoviário seguem na esperança de manterem sua única fonte de renda e empenhados em lutarem até o último dia.

 

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