Política

“Vejo que há coisas boas para acontecer”, afirma Claudinho da Geladeira à Folha

Em entrevista, Prefeito de Rio Grande da Serra falou sobre os problemas encontrados, metas e expectativas para o mandato

Claudinho (Podemos) é o prefeito de Rio Grande da Serra

Imagem:Divulgação

Por Thainá Maria

Foram oito anos de luta e dedicação para que Claudinho da Geladeira (Podemos) pudesse atingir seu maior objetivo: tornar-se prefeito de Rio Grande da Serra. O pernambucano de 55 anos, que já integrou o Legislativo Municipal por três mandatos seguidos, usou de sua simplicidade, carisma e força de vontade para superar as derrotas nas urnas nas eleições de 2012 e 2016, e então ser coroado, em 2020, com 8.656 votos, ao cargo de chefe do Executivo Municipal.

Otimista quanto ao futuro da cidade, mas ciente de todos os problemas que precisam ser tratados, Geladeira recebeu a Folha em seu gabinete, na última terça-feira (12), e falou sobre a situação atual da cidade, além de as metas estipuladas junto ao seu secretariado. Confira a entrevista.

 

Folha -  Claudinho, o que motivou a lutar durante esses oitos anos? 

Claudinho  - Não desistimos, não é? O que faz a pessoa se motivar para ser candidato é a pesquisa, são os números, as pessoas pedindo. Um dia eu perdia a eleição e no outro, ia agradecer. Já começava outra campanha, pautada pela gratidão. Em 2016 foi a mesma coisa. Em 2017 começamos a sinalizar uma situação de possível candidatura. Fomos trabalhando, o grupo foi crescendo.

Se você não tiver um pensamento forte, você desequilibra. São piadas, falaram que eu ia pedir música para o Fantástico. Você chega a se questionar se está fazendo a coisa certa. Vim de Pernambuco, não tenho nenhuma base política familiar. Fui construindo aos poucos.  Meu nome, Geladeira, muitas vezes foi motivo de gozação. Mas foi esse nome que ganhou para vereador, que fez o carnaval. O nome que ajudou na história foi Claudinho da Geladeira. Foi difícil, mas não podemos desistir. A minha história vai servir para motivar muitas pessoas. Não sou empresário, não sou um cara rico, mas tenho muitos amigos.

 

Folha -  A saída do PT foi um projeto visando a Prefeitura?

Claudinho -  Não imaginei nada. Havia muitas pessoas que falavam: ‘Claudinho, eu quero estar junto com você, mas precisamos estar em outro projeto’. Conversei com muitas pessoas e foi construindo uma força e nós optamos por sair em uma nova sigla, e os votos se mantiveram. Antes de sair da sigla, eu conversei com o povo de Rio Grande e falava para eles o seguinte: ‘Nós queremos ter um projeto para Rio Grande? Nós queremos avançar?’ Nós temos que ter o olhar da cidade e esse olhar está acima do partido. O amor pela cidade é muito maior. Agregamos mais pessoas, tanto que saímos de 32 candidatos a vereador para 90. E a não coligação também nos ajudou porque nos fez construir o partido. Muitos falam sobre a saída da sigla, mas eu acho que tudo tem um momento, esse momento estava escrito por Deus, porque nada acontece sem permissão.

 

Folha - O que já possível  enxergar sobre a real situação da Prefeitura de RGS?

Claudinho - Muita dificuldade. Dificuldade financeira, estrutural, desorganização total. Você percebe que não havia dentro da cidade uma organização como a gente faz dentro de nossa casa, por exemplo. A gente chega e pensa: ‘Poxa, tanto tempo assim e está desse jeito?’ Não tem um banheiro para os funcionários, uma cozinha para se alimentar. Eu acho que isso é uma acomodação da gestão, foram caminhando sem perceber isso. Além disso, sumiram inúmeros HDs de computadores, havia 15 roçadeiras e só encontramos duas na garagem.  E eu ficava pensando quando tinha aqueles desfiles e eles mostravam aquelas ambulâncias: ‘Nossa, está melhorando cada vez mais’. Depois, eu fui ver: ‘Cadê as ambulâncias?’. Estão todas sucateadas. Acho que não faziam o checklist. Eu vejo que isso acontece quando os administradores não moram na cidade.  Eu moro aqui. Eu tenho que fazer tudo certinho porque minha família mora aqui. Acabou o mandato, amanhã eu vou andar na feira. Ficou esse problema para nós resolvermos. Vamos trabalhar esse tripé – financeiro, estrutural e motivacional.

 

Folha - Essa desmotivação dos funcionários é em virtude de 16 anos do mesmo grupo político?

Claudinho - Pode ser, porque você vê que não vai mudar nada, só muda o jogador, mas o sistema tático continua o mesmo. Aí você vê essa desmotivação, de que não vai dar nada certo.  Vamos ter que trabalhar muito a motivação dos funcionários, para que eles possam acreditar que podemos ter uma cidade melhor. Além de funcionários, eles são munícipes. Se eles derem o melhor, com certeza, as coisas começam a acontecer. Se você faz o bem sem olhar a quem, os resultados começam a vir. Gentileza gera gentileza, é natural.

 

Folha - Como é a relação com a sua vice, Penha Fumagalli?

Claudinho - A Penha é maravilhosa. É uma pessoa que vai contribuir muito para Rio Grande da Serra.  Existe sim uma sintonia muito boa entre nós. Confio plenamente nela, sei que ela fará um bom trabalho a frente da Secretaria de Educação. Ela tem muita boa vontade, uma pessoa guerreira e que quer contribuir muito para Rio Grande da Serra. Vejo que nós temos a possibilidade de fazer um grande governo, um governo que eu digo de humanização, de unidade. Vamos olhar para frente. Vejo também que a Câmara também poderá ajudar muito. Estamos dialogando direto com os vereadores, que elegeram alguém para a presidência que poderá nos ajudar. Estamos afinados.

 

Folha - A sua gestão já começou com um problema na Saúde. Qual a solução para essa questão?

Claudinho - Acredito que dentro de duas semanas, a gente vai poder se articular. Vamos ter que conversar e ver o que é o melhor para a cidade. Nossa secretária Maria José está avaliando a situação. Nós montamos o secretariado para que eles possam ter autonomia. As pessoas precisam saber quem realmente são seus empregados. Assim que estivermos organizados, nós vamos fazer a ‘Prefeitura nos Bairros’, para nos deixar mais próximos da população. Eu quero fazer esse contato e saber se os problemas foram resolvidos. Você monta seu secretariado e cada um vê que sua pasta funcionou, então isso é gestão. É como se você fosse o síndico do prédio, mas a cidade não tinha isso. Se você colocar isso para funcionar e toda semana se reunir com os secretários para ver o que andou, o que precisar ser feito, todo mundo começa a trabalhar. Não dá para manter um secretário apenas pelo status. Para nós será um desafio organizar essa cidade.

 

Folha -  O que já foi conversado nesses primeiros dias no que diz respeito à  pandemia da Covid-19?

Claudinho - A primeira coisa que nós fizemos foi decretar o não retorno das aulas presenciais. Fizemos uma reunião no Consórcio, e eu mostrei o problema que a cidade tem. A gente tem uma grande dificuldade para cumprir os protocolos, total desorganização nos dados, sobre quantas pessoas foram infectadas e para onde levar essas pessoas, porque não temos uma opção. Nossa referência é o Hospital Nardini. Então coloquei isso para o nosso presidente, Paulo Serra, e decidimos segurar até março, para que até lá a gente possa ir se adaptando com protocolo. E também trabalhar isso com o incentivo de que a vacina chegue. Voltam-se às aulas e se um aluno for infectado, toda aquela sala não volta mais. Então como você pode fazer isso? Em uma cidade que não tem estrutura médica, não tem hospital, não temos uma UTI. Eu vejo que dentro do que nós pegamos, a primeira coisa a ser feita é não autorizar a volta às aulas neste primeiro momento. Temos uma grande preocupação com as nossas crianças e também com os nossos funcionários. Ver de que maneira podemos voltar, mas voltar cumprindo os protocolos, porque essa pandemia não é brincadeira. Nós pegamos uma cidade totalmente desorganizada neste sentido, mas estamos tendo toda uma preocupação com isso.  Também já estamos trabalhando no Plano de Vacinação de acordo com o Estado de São Paulo.  Estamos nos organizando para iniciar a campanha assim que a vacina estiver liberada.

 

Folha - Há algum tempo a Dura Automotive ameaçou ir embora de Rio Grande da Serra. Como o senhor encara essa instabilidade econômica privada?

Claudinho - Tivemos  um encontro com o pessoal do sindicato e há uma conversa sobre a Dura produzir câmbio automático. Eles querem trazer isso para a cidade e ser a primeira empresa brasileira a produzir câmbio automático. Então a expectativa é de manter a produção em Rio Grande da Serra e isso é muito bom para nós. Vejo que há coisas boas para acontecer.

 

Folha - Como o senhor espera entregar a cidade no dia 31 de dezembro de 2024?

Claudinho - Eu sou muito otimista. Eu acredito que lá nós teremos uma cidade muito mais positiva, uma cidade que estará pulsando, iluminada. Uma cidade em que as pessoas estarão felizes, uma cidade em que as pessoas terão muito mais orgulho em morar. Onde os moradores irão olhar para trás e pensar: ‘Nossa, como Rio Grande ficou grande’. É esse olhar que eu tenho. Uma cidade extremamente diferente, com as coisas acontecendo e povo acreditando no projeto.  O que eu falava era isso: ‘Eu só preciso de uma oportunidade para fazer as coisas acontecerem’. Terá muita coisa boa até lá. Pretendo incentivar o turismo. Trazer essa identidade para Rio Grande da Serra, motivar as pessoas a virem para cá. Temos uma qualidade de vida aqui, uma tranquilidade, o índice de violência é baixo. Pretendo também instalar o primeiro semáforo da cidade, temos que estudar o melhor local. Quanto ao Corpo de Bombeiros, vamos ter que fazer uma avaliação. Não podemos nos comprometer com uma coisa que a gente não sabe.  Eu ainda não sei como foram as conversas, as negociações, mas vamos lutar por esse posto do Corpo de Bombeiros. A ideia é buscar um meio para que isso ocorra.

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