Saúde

Governadores cogitam formar consórcio para ter vacina chinesa

Ideia seria para financiamento e distribuição, porém, esbarra na dificuldade de recursos sem o apoio do Governo Federal

Em setembro, a Anvisa autorizou a Fase III da vacina chinesa CoronaVac

Imagem:Divulgação

Por Marília Gabriela

Governadores e secretários de Saúde do país cogitam a possibilidade de se unirem em um consórcio para financiar e distribuir a vacina CoronaVac, assim que houver aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A alternativa ganha força diante da possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ignorar a vacina contra a Covid-19, hoje em desenvolvimento pelo laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantã, por causa de disputas políticas com o governador João Doria (PSDB) e o país de origem do produto.

A possibilidade de os governadores se articularem em consórcio foi adiantada pelo Estadão, na última semana. A ideia ainda em debate, porém, esbarra na dificuldade de ter recursos sem apoio federal. Representantes de Doria pediram R$ 1,9 bilhão ao Ministério da Saúde no projeto da vacina, mas o valor total pode ser maior. O debate acalorado sobre a obrigatoriedade de vacinação contra o Sars-Cov-2 colocou a disputa política muito à frente do chamado “tempo da ciência”, pois, a data para a liberação das doses ao SUS - Sistema Único de Saúde, ainda não foi definida.

A disputa política ganhou novos capítulos após uma reunião em que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, garantiu que a pasta compraria 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech e em testagem no Brasil pelo Instituto Butantan. Menos de 24h depois, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o auxiliar e afirmou que o governo “não comprará” a “vacina chinesa de João Doria”.

Cientistas ouvidos pelo Estadão alertam que o momento atual deveria ser usado pelas autoridades para discutir temas mais urgentes, como a estrutura laboratorial do país, planos de logística e estratégias de informar a população sobre a importância de aderir à futura vacina, frente a pandemia do coronavírus, que já causou a morte de 157 mil brasileiros.

O governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), admite que a ideia do consórcio foi cogitada, mas acredita que haverá outra solução antes. "Só teremos cenário mais claro quando as agências reguladoras dos Estados Unidos, União Européia, Japão e China se posicionarem. E começar vacinação em massa em outros países. Então haverá argumentos suficientes para até mesmo recorrer ao Judiciário", disse.

Na última quarta-feira (21), em visita a Brasília, o diretor do Butantã, Dimas Covas, disse que, se a vacina for aprovada pela Anvisa, as 46 milhões de doses estarão disponíveis para os brasileiros quer a União decida pela compra ou não. "A questão será o financiamento", disse Covas.

Vale ressaltar que 46 milhões de doses não seria nem mesmo suficiente para imunizar os brasileiros que estão no grupo de risco. Segundo estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cerca de 86 milhões de brasileiros adultos estão nessa faixa da população. Uma das fontes de recursos estudada para a CoronaVac é a Medida Provisória 994, que prevê R$ 2 bilhões para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O dinheiro é destinado ao desenvolvimento de outra vacina, de parceria da farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford (Reino Unido). A ideia seria obter, na tramitação da MP no Congresso, a destinação de parte do montante ao Butantã e à pesquisa da CoronaVac.

A MP foi assinada em agosto já é válida, mas ainda pode ser alterada pelo Congresso até 3 de dezembro. Uma mudança precisaria da sanção presidencial. Os deputados Vinicius Poit (Novo-SP) e Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) apresentaram emendas para dar verba ao Butantã. Poit pede R$ 997.480 milhões e Jardim, R$ 500 milhões para São Paulo. Contudo, a aprovação das emendas ainda está pendente.

Mais lidas agora

Últimas em Saúde