A Câmara de Ribeirão Pires aprovou na tarde de ontem, por 12 votos favoráveis, três contrários e duas abstenções projeto de lei de autoria da Prefeitura que concede a utilização da área do Centro Esportivo da Vila Gomes a uma empresa privada.

A área de 31.500 metros quadrados passa a ficar sob a guarda do Clube Atlético Desportivo Ribeirão Pires por 20 anos, prorrogáveis pelo mesmo período.

A proposta colocada em votação única pegou a maioria dos vereadores de surpresa, que antes da sessão chegaram a se reunir e fechar o adiamento da matéria, contudo, os 12 vereadores da base receberam ordem do prefeito Kiko Teixeira (PSB) para votar o projeto. Votaram contrários a aprovação: Danilo da Casa da Sopa (PSB), Anselmo Martins (PR) e Amigão D’Orto (PTC), se abstiveram de votar: Rubens Fernandes, o Rubão (PSD) e Paulo Cesar, o PC (MDB).

A medida foi questionada pelos parlamentares oposicionistas, que alertaram para problemas no projeto. “Pela proposta, o clube deverá implantar estacionamento, e poderá cobrar por ele, a população terá que pagar para usar o espaço público?”, questionou Amigão D’Orto (PTC) que alertou: “Por qual motivo não querem adiar por uma sessão a votação? Ouvir os presidentes dos clubes? A sociedade? Senhores vereadores, seremos cobrados por isso?”, destacou.

Rubens Fernandes, o Rubão (PSD) lembrou que o projeto não é ruim, mas deveria ser discutido com os esportistas. “Iria ser adiado e agora será votado? O projeto não é ruim, mas como está não pode passar”, indagou.

O líder do prefeito, Amaury Dias (PV), disse que não se trata de doação, e sim cessão que não ficará exclusivo para a iniciativa privada. O líder destacou que uma emenda garante a continuidade de projetos sociais e a partida final dos campeonatos no local.

Pela concessão, o clube se responsabiliza com as melhorias no centro e a formalização do time profissional na cidade.

A pressa do Executivo em aprovar a matéria pode estar servindo como cortina de fumaça para evitar questionamentos.

O Clube Atlético Desportivo Ribeirão Pires, na verdade é o Clube Atlético Diadema – CAD, a entidade apenas mudou o nome fantasia para justificar o contrato com a Estância.

O disfarce é tão grotesco que o endereço comercial que consta no CNPJ é Rua Luiz Roncon, 230, bairro Santana.

No local existe uma construção residencial, e pelo interfone, a pessoa que atendeu a reportagem desconhecia a empresa.

Outra questão que demonstra que a transferência de nome e sede para Ribeirão Pires é apenas documental, é o telefone utilizado para a sede: 4232-8666; este número na verdade é de uma empresa contábil situada em São Caetano do Sul, o mesmo ocorrendo com o e-mail de contato.

A Folha apurou ainda que o número fixo de contato é o mesmo utilizado em registros de outras empresas do grupo voltadas a serviços contábeis e de marketing esportivo, nas cidades de Ilhabela e São Caetano do Sul.

Em pesquisa no Portal JusBrasil que traz processos judiciais, o Clube Atlético Diadema, transformado em Clube Atlético Desportivo Ribeirão Pires, possui inúmeros processos no Tribunal Regional do Trabalho, um deles julgado em 19 de agosto.

Um atleta do clube ajuizou ação no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2), e a Juíza Rhiane Zeferino Goulard, declarou o vínculo empregatício do rapaz com o clube no período compreendido entre 24 de março de 2015 e 31 de julho de 2017 condenando a entidade a pagar os salários referentes ao período, décimo terceiro salário e férias, bem como, multas.

Processos impetrados por outros atletas figuram com causa ganha ou em andamento.

Por conta do horário de término da votação, a Folha não conseguiu contato com a Prefeitura de Ribeirão Pires.

Pelo número de telefone que consta no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica da empresa apenas uma secretária eletrônica atende as ligações.