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Literatura, fonte conexão com o “Eu”

Por Valmiria Duarte 

Não sei se por ser uma necessidade ou por ser algo inerente ao homem, este, ao longo de sua jornada, buscou maneiras de dialogar com as mais variadas formas de se contar a vida.  Assim, o que começou com membros de uma comunidade conversando ao redor de uma fogueira, trilhou e encontrou diferentes caminhos como o do teatro, da escrita, dos cinemas, das plataformas de streaming e até mesmo dos jogos de videogame...Mas o que explica tanto sucesso? De onde vem o poder das narrativas? 

Se pensarmos nos pontos complementares da comunicação, facilmente podemos assimilá-los a permanência dessa prática. De um lado existe alguém disposto a contar algo e, do outro, um vasto público disposto a ouvir essa narrativa. Talvez esteja exatamente aí o seu poder, na capacidade de conexão. 

Trabalhando recentemente um projeto de leitura com turmas do 8ª ano do E.F, pudemos refletir – tanto eu quanto os alunos – sobre o poder que as narrativas podem exercer sobre nós – sejam elas lidas, assistidas ou faladas. O livro escolhido para discussão foi um romance infanto-juvenil que traz como protagonista um adolescente que, para tentar se proteger da dor que a realidade lhe causava, criava para si mesmo, novas versões de sua história.

Nada conseguia ultrapassar a barreira da utopia que, por medo de passar pelo luto, ele criou para si. Produziu, também, julgamentos acerca de pessoas ao seu redor, assim, sua avó, que dividia-se entre tentar apoiar a filha doente e preparar o neto para uma iminente perda, tornara-se uma bruxa má, digna de punição. 

Essa fuga da realidade perdurou até a chegada de um contador de histórias na forma de um grande monstro. Suas narrativas, à primeira vista, pareciam tolas e fantasiosas, contudo tiveram o poder de transcender a redoma que criara a fim de preservar seus sentimentos. 

Muitas vezes somos nós o personagem desse livro que, independente se na adolescência ou na vida adulta, não conseguimos encarar a nossa própria verdade, porque ela nos faz sofrer. Outras tantas o acaso nos fazer chegar algum deleite em forma de livros, de música, de filme ou de uma conversa com outra pessoa e, assim, interrompemos o processo de fugir da dor, que só nos machuca ainda mais.

Estaria nas entrelinhas dessas narrativas a sutil capacidade de nos ligar a nossa própria história?

Valmiria Duarte 
Professora

Imagem: Folha de Ribeirão Pires

Valmiria Duarte 

Professora

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