A literatura é uma das formas mais ricas de se reproduzir a vida. Nela encontramos diversas histórias e personagens da vida real, trajetórias que nos motiva, entristece, ensina, emociona. Talvez esteja aí o poder da literatura, pois ela atua no imaginário de quem a lê, mostrando o mundo como ele é ou como poderia ser, oferecendo perspectivas – ultrapassadas ou inovadoras – e quando se trata dessa arte, é necessário refletir acerca dos discursos que se está ajudando a propagar.
Chimamanda Adichie, escritora nigeriana, fala sobre o perigo que há em se contar uma única história. Ela relata em sua palestra no Ted Talks sua experiência de ter ido estudar em uma Universidade nos Estados Unidos e ser alvo de olhares piedosos dos colegas, já que nas narrativas a que eles tiveram acesso só conheceram uma África extremamente faminta e doente. Conta ainda em como se sentia quando, em seus livros de infância, só encontravam princesas que não a representavam.
Essa e tantas outras experiências mostram a relevância de se apresentar e representar diferentes histórias e culturas nas narrativas.
É primordial pensar na importância da representatividade na literatura e, nessa lógica, a escolha do personagem e sua trajetória tem muita relevância – precisamos encontrar nos livros mais protagonistas que sejam mulheres autossuficientes, ao invés de indefesas e submissas, mais personagens negros ganhando espaço na sociedade, ao invés de simples empregados. Pensar no personagem e no papel que ele vai desempenhar é fundamental para entender que tipo de discurso está sendo transmitido dentro da obra.
Para além do papel dos personagens, é preciso pensar em quais autores estão sendo consumidos, sobretudo em ambientes educacionais. Sabemos que a escola exerce um papel fundamental para edificação da sociedade e a literatura é um dos recursos que pode fazer deste, um espaço mais plural, que não favoreça a manutenção dos privilégios. Assim, é fundamental direcionar os estudantes naquilo que eles leem, oferecendo diferentes caminhos.
Nesse sentido, a literatura marginal é uma alternativa, pois tem potencial de apresentar a sociedade sob um novo prisma. A leitura desses textos em sala de aula pode trabalhar não só a representatividade, como também fomentar discussões sobre temas importantes como preconceito e desigualdade social. Enfim, essa arte carrega em si infinitas possibilidades, já que tem o poder de nos fazer pensar além dos parâmetros estabelecidos.
Parafraseando Etiene Martins, a literatura não tem o poder de acabar com o pensamento hegemônico, contudo quando incluímos nela grupos antes não representados, ela pode nos tirar do automatismo – fazendo-nos refletir sobre ditames pré-estabelecidos e despertando um olhar mais sensível e plural.
Imagem: Folha de Ribeirão Pires
Valmiria Duarte
Professora