Artigos

As histórias que contamos

Por Valmiria Duarte 

A arte de contar histórias acompanha o homem desde os tempos mais remotos. Com a finalidade de ensinar, entreter ou relaxar, elas são de suma importância para o desenvolvimento intelectual e emocional do ser humano, logo merecem a nossa atenção, sobretudo quando nos referimos àquelas que invadem o nosso cotidiano, que formam a nossa vida, as nossas próprias histórias.

Miguel de Cervantes, criador do célebre Dom Quixote, dizia que o poeta pode contar ou cantar as coisas, não como foram, mas como deveriam ser. Eu concordo com ele quando penso na influência que as histórias que contamos tem sobre nossas vidas. Não quero dizer com isso que devamos começar a mentir acerca de nós mesmos, mas é importante perceber qual lado da história estamos repetindo e como isso alimenta a nossa esperança ou a nossa desilusão.

Se pensarmos a nossa vida como um livro, veremos que ela tem capítulos muito alegres e outros nem tão felizes assim. Muitas vezes não podemos controlar o que nos acontece, contudo, está em nossas mãos decidir o que fazemos com esses acontecimentos, e é nesse momento que as histórias que contamos ganham forças. E se, em vez de repetirmos diversas vezes episódios negativos da nossa vida, tentássemos enxergar neles algo de bom.

Sei que isso não é fácil, muitas vezes desviar o foco demanda tanta energia quanto a empenhada nos momentos de sofrimento, no entanto os resultados são diferentes, a exemplo disso temos as diversas instituições que nasceram de perdas imensuráveis. A partir das nossas experiências podemos fazer escolhas incríveis que têm o potencial de mudar, se não o mundo, a nós mesmos, a nossa capacidade de ter esperança.

Vivemos tempos sombrios. Testemunhamos, impotentes, a morte de milhares de seres humanos vítimas de um vírus que, há pouco, era desconhecido. Assistimos à deterioração do nosso planeta, ao aumento da miséria e da fome, as pessoas perdendo suas liberdades individuais devido a ascensão de grupos extremistas ao poder.

Se somarmos isso aos nossos próprios dilemas, teremos uma carga demasiadamente pesada, muitas vezes, perdemos a força, o ânimo, a esperança. Por tudo isso é preciso, urgentemente, que voltemos a sonhar – e por que não recorrer a velha prática de contar histórias? Dessa vez não só como elas são, mas também como elas deveriam ser.

 

Imagem: Valmiria Duarte

Valmiria Duarte 

Professora graduada em Letras, escritora e arteterapeuta

Contato através do Instagram @retalhoseroteiros

Mais lidas agora

Mais Artigos