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Precisamos falar sobre suicídio

Por Ana C. Ghezzi

Existe uma tragédia silenciosa tomando corpo no cenário contemporâneo, um fenômeno ainda quase invisível, mas profundamente impactante com milhares de vítimas.

O suicídio é um problema crescente e alarmante, quase um milhão de pessoas no mundo tiram a própria vida anualmente, ou seja; aproximadamente 1.920 pessoas se matam por dia, configurando-se em uma morte a cada 45 segundos.

O Brasil aparece na lista dos dez países que possuem o maior coeficiente de mortes auto infligidas.

Do total de óbitos registrados no Brasil, 1% decorre de suicídios, tendo sido registrado 9.852 suicídios no país em 2011, o equivalente a 27 mortes diárias.

Outro fator preocupante, é que a maioria dos casos de suicídio poderia ter sido evitado se tivessem recebido o auxílio adequado, evidenciando a importância da compreensão dos processos mentais envolvidos e também as formas de atuação e prevenção que podem ser exercidas pelo psicólogo, assim como a necessidade que dentre as equipes de saúde, os estereótipos e preconceitos sejam destituídos de sua prática nos atendimentos à casos de tentativas de suicídio.

Este aspecto também reflete diretamente a escassez de medidas para a conscientização e amparo da população (necessárias para que entenda-se que o suicídio integra um problema de saúde e que existem meios de preveni-lo), além de denunciar a falta de um debate fundamental - que tem sido ignorado por tratar-se de um tema desconfortável e ainda ser visto como um tabu.

É importante destacar que como cada caso é único, ainda que deva existir um protocolo padronizado de atendimento, é importante que a intervenção tenha um caráter individualizado, a fim de suprir as necessidades particulares e subjetivas de cada indivíduo.

Para uma prevenção eficaz, é imprescindível que se eduque e capacite satisfatoriamente os profissionais da saúde que atuam na atenção primária.

Uma equipe bem preparada e orientada pode se atentar para possíveis fatores de risco de suicídio, principalmente em relação aos pacientes que apresentam sintomas depressivos.

Somente a partir do desenvolvimento da empatia do profissional para com o paciente, compreendendo assim seu estado interno de angústia, é que torna-se possível um atendimento humanizado e apropriado.

Desse modo, percebe-se uma necessidade de que os profissionais dos serviços de atenção primária apoderem-se de táticas que propiciem sua proximidade com os pacientes, com o intuito de estabelecer uma relação de confiança e vínculo médico-paciente/ psicólogo-paciente, que crie condições acolhedoras para que o sujeito sinta-se seguro em expressar suas ideias, pensamentos e planos acerca do suicídio.

Porém deve-se salientar que só se atingiria o propósito de um prevenção e intervenção bem-sucedidas se, além dessa conscientização, fosse empregada a psicoterapia como tratamento contínuo além da administração de fármacos ao longo do processo.

Ana C. Ghezzi - Psicóloga

Imagem: Folha de Ribeirão Pires

Ana C. Ghezzi

Psicóloga

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